quarta-feira, 20 de julho de 2011

Cerca...

Tenho pensado muito sobre a postura da consulência em relação a Umbanda.
Concomitantemente, os médiuns também têm mostrado sua frustração ao atenderem esses consulentes com os guias e quando chega a hora dos Orixás, que sob qualquer prisma em que analisemos são os condutores dos trabalhos dos Guias. (Sem Orixás não há trabalho de Guia), ao olharem para a assistência, não encontram ninguém ou quando encontram, são parentes ou amigos do médium que os aguardam porque vão juntos embora.
Tento mostrar que a Umbanda é uma religião e devemos dentro do templo nos portar como manda a boa educação, achando que todos deveriam ficar até o final da Gira, pois é o que fazemos quando vamos a templos de qualquer outra religião.
Pense que as pessoas precisam desenvolver a religiosidade ao invés de crer que a espiritualidade vá fazer algo por alguém só porque este alguém está pedindo.
Já desolado e sem acreditar que isso mudará, sentado ao pé do Congá, olhava lá no fundo as cadeiras arrumadas para a próxima reunião, o templo vazio, eu ali sozinho, a pensar...
As correntes que separam a consulência do espaço mediúnico, a porteira... Pensei:
- Será que devo tirar essas correntes? Tirar a porteira? Integrar todos ao ritual? Bem, seria algo ousado e inovador! Eis que pensando nisso percebo a presença de um amigo espiritual...
- Filho, porque tanta pergunta?
- Me ilumine, o que acontece? Até quando será assim?
Semana após semana, dezenas de pessoas sentando ansiosas naquelas cadeiras a espera de um milagre, sem um mínimo de esforço deles, querem se enganar que vocês vão fazer algo por eles sem ao menos eles se movimentarem em fazer por merecer?
- Filho, quem disse que não vamos fazer algo?
- Vão?
- Sim, sempre fazemos!
- Então... Bem, não sei mais com pensar, se vocês agem como empregados dessa gente que não quer se modificar...
- Quem disse que não se modificam?
- Modificam?
- É certo que sim..
- Filho, quando você ainda era um menino travesso, fazia suas estripulias e acabava com isso quebrando algumas regras e seu pai esbravejando vinha te repreender, você dava a verdadeira atenção ao sermão dele?
- Não, senhor. Respondi envergonhado.
- No entanto, sabia muito bem do seu erro, não é?
- Sim..
- E assim você foi vivendo, de acertos e erros, de lágrimas e risos, de decepção e alegrias, não é?
- Sim...
- Seu pai contribuiu de que forma na sua formação conceitual o que você acredita  ser o certo ou o errado?
- Não desistindo de falar e num certo momento e de certa forma não mais me cobrando...
- E deixando você viver sua vida, não é?
- Sim, é isso mesmo.
- Assim somos nós, aqui, filho. Sabemos dos erros de cada um e posso dizer, pouco importa, pois cada qual sabe do seu calo e vez por outra os lembramos disso, na maioria do tempo procuramos acalentar o coração desses milhares de filhos de Olorum que ainda frágeis se encontram na vida e que precisam mais de um amigo a escutar suas lamentações e esse amigos prestativo tentar ajudá-los como for possível, sem cobrar nada, sem esperar nada, sem sermão, sem repreensão. Pois precisam apenas de liberdade orientada e assim, filho, cada qual no seu devido tempo entenderá o que ontem não entendeu e passo a passo vão se organizando e melhorando sua vida por atitudes e conceitos.
- Compreendo senhor, mas o que isto tem a ver com a religiosidade e a falta de senso daqueles que tomam seu passe e vão correndo embora.
- Tem tudo a ver filho, primeiro desarme seu coração e não tome em suas mãos a necessidade de impor qualquer coisa que seja a ninguém.
- Desculpe..
- Religiosidade não é algo que se imponha, é um sentimento que nasce, brota na alma do indivíduo e o toma por completo. Religiosidade é um sentimento muito próximo do que entendemos sobre o amor. Você ama por convencimento ou por que te impuseram algo? Isto é religiosidade! Amar sem saber, sem explicar, sem entender, simplesmente o coração diz que é bom e melhor é estar perto.
- E o conhecimento?
- Vem depois filho, respeitando também o tempo de cada um...
A necessidade de dominar racionalmente aquilo que se ama é algo natural, pois senão, com o tempo virão as desconfianças.
- É certo isso senhor, amo a Umbanda porque a entendo.
- Também não esqueça que entende a sua maneira, existem outras formas de entendê-la. Vamos falar do que há do lado de lá da cerca.
Filho, a Umbanda é sim, uma religião, tem sua liturgia, sua doutrina, seus preceitos e um caminho de religar o ser ao SUPREMO. Ela, como manifestação da compaixão divina, não ajuda somente seus filhos, nela todos que recorrem podem ser beneficiados. Claro, que de acordo com o coração e a lei de Olorum. Ela não exige conversão, não exige classe social, enfim não há pré-requisito para a Umbanda ajudar ao próximo. Quando falo Umbanda, já estou falando dos milhares de Espíritos Guia que a formam.
- Assim falou o Senhor 7 Encruzilhadas.
- Sim, ele falou e você parece ter esquecido.
- Não é isso, Senhor.
- Aquela cerca existe para que você nunca esqueça disto e não invente nada inovador e ousado quando se tratar do que já está certo e funcional.
(Risos)
Do lado de lá da cerca, poucos pares querem estar aqui (Do lado de cá.)
E sabe por quê?
- Não
- Porque não desenvolveram ainda a religiosidade, aquele sentimento de amor que eu acabei de falar.
- Entendo, e o que fazer então?
- Primeiro, tirar a ideia de que todos aqui dentro devem ter religiosidade (Amor a religião) Umbandista e aceitar que toda Tenda, Templo, Terreiro de Umbanda que são portas abertas de coração de Olorum, que aguarda seus filhos amorosamente para lhes escutar e lhes beneficiar no que for preciso.
- Ah, senhor isso me é confuso e contraditório.
- Não é não. Basta abrir seus olhos e lembre-se de quando e como conheceu a Umbanda. O que ela cobrou de você?
- Nada!
- E hoje está aqui, amando-a.
- Sim, e ainda não me cobra nada, sou Umbandista porque sou livre, senhor.
- Liberdade, filho, é disto que estou lhe falando. Deixamos todos livres para que possa Caminhar, Tropeçar, Construir e juntos vamos ensinando, aprendendo e mutuamente crescendo.
- Preciso de sabedoria meu pai.
- Também não se compra... Simplesmente acontece.
(Risos)
- Claro que cada Templo deve ter suas normas de Ordem, Conduta e Preceitos, mas isto é individual e interno. O que cada um faz no coração dia a dia é problema de cada um.
- Entendo.
- Umbanda sempre foi e sempre será para o lado de lá da cerca, um pronto socorro de almas, meu filho. Já foi num pronto socorro?
- Sim.
- Acaso o médico, após te atender, pediu que ficasse lhe esperando até o expediente terminar?
- (RISOS) Não, não.
- E após o atendimento correu para o seu lar, não é?
- Sim, é isso mesmo.
- Assim, querendo ou não, é como funciona a dinâmica de atendimentos na Umbanda, todos são atendidos, serão auxiliados sim, dentro do possível mesmo que ele nada faça por "Merecer", porque merecimento é algo mais complicado do que sua curta capacidade de julgo pode compreender, filho amado. E ao fim de que um trabalho espiritual, todos aqui podem retornar as suas casas certos de que cumpriram mais uma vez suas "Obrigações". E sabe? Aqueles poucos que ficam ali, aguardando o fim da sessão, estão esperando alguém e outros mais.
Poucos estão percebendo que um sentimento está envolvendo seu coração, amanhã poderá chamar de religiosidade.
- Senhor, estou envergonhado...
- Sabe quem é o religioso nesta história?
- Quem?
- Os que estão do lado de cá da cerca. Acaso brotaram do nada aqui?
Ou um dia estiveram do lado de lá?
- Vieram de lá, senhor.
- Muito bem, e num momentos deles, cada qual com seu, percebemos que seria a Umbanda, a religião, um caminho de irem ao encontro de Deus Olorum, fatalmente precisaram estar do lado de cá, para condicionar, ordenar e movimentar sua religiosidade que já não cabia do lado de lá.
- Compreendo, senhor. É certo que não me imagino do lado de lá.
- Certo também é que um dia esteve do lado de lá.
- Sim. Então filho, ainda resta alguma dúvida?
- Me resta vergonha, senhor!
- Não se envergonhe filho, sua curiosidade e sua petulância é o motivo que nos une, enquanto perguntar saberá que é um eterno aprendiz e me será útil, quando não mais perguntar terá se perdido e eu não terei em você nenhuma utilidade.
- Nossa!... Desculpe... Já não sei o que dizer...
- Então cala teu coração e vive o amor religioso que tens, transbordando-o para todos, para alimentar cada faísca que houver no coração de cada um e antes de pensar que não precisam mais de você compreendo que nossa conversa é a dúvida de muitos e nossa reflexões servirão a todos.
- Umbanda é assim, tão simples e tão complicada, um paradoxo divino, será eternas as interpretações pessoais sobre ela e sua dinâmica, no entanto, nós, por amor, vamos nos adequando aos limites de cada qual porque o que vale é estar entre nossos irmãos encarnados. Onde houver um coração a nos receber, lá estaremos do jeito que for, pois se estivermos perto sabemos que lentamente podemos ajudar este coração para o caminho da independência e da liberdade espiritual. Assim foi com você e com todos os milhares de mediadores espalhados pelos milhares de terreiros que da sua forma peculiar levam a bandeira da Umbanda, como boa nova a todas as famílias, Bandeira esta que é Branca, sem nome, sem símbolo, branca porque é cristalina, é a fé na vida de todos. Agora, fique em paz!


Saravá Umbanda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário